domingo, 23 de novembro de 2014

NATUREZA E SOCIEDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A criança, a natureza e a sociedade

As crianças da creche representam o mundo a partir das relações que estabelecem com os objetos concretos da realidade sentida e vivenciada. Essas relações são significadas e mediadas por representações construídas culturalmente, favorecendo a mudanças no modo de compreensão do mundo. A criança é curiosa, gosta de explorar objetos e estar em constante movimento. Nesse processo, confronta hipóteses e explicações que lhes são fornecidas nas interações com o meio. Assim, a elaboração de conceitos pelas crianças ocorre não apenas a partir do concreto, mas de forma contextualizada, acerca dos fenômenos, seres e objetos e, conforme vão se desenvolvendo e aprendendo, dirige-se a particularização.
Segundo o RCNEI, o conhecimento a ser construído nessa área acontece gradativamente nas atitudes infantis de “curiosidade, de crítica, de refutação e de reformulação de explicações para a pluralidade e divesidade de fenômenos e acontecimentos do mundo social e natural” (p. 173). Assim, nesta perspectiva, o professor pode organizar o trabalho de maneira a sistematizar conteúdos que sejam mais significativos para a criança e sua realidade. O trabalho pode consistir em estimular as crianças a obsevar fenômenos, descrever acontecimentos, elaborar hipóteses e, principalmente, conhecer a historicidade existente nas relações sociais utilizando recursos como televisão, rádio, fotografias, jornais, filmes e livros.
A prática pedagógica com crianças de creche tem por objetivo “explorar o ambiente, para que possa se relacionar com pessoas, estabelecer o contato com pequenos animais, com plantas e com objetos diversos, manifestando curiosidade e interesse” (Brasil, 1998b, p. 166). As atividades podem envolver histórias, jogos e brincadeiras e músicas que abordem a cultura a que a criança é envolvida em seu contexto social, experiências que identifiquem explorações de objetos, suas propriedades e relações simples de causa e efeito. Assim, fazer gelatina é um exemplo simples de como ocorre o processo de transformação e pode ser feito facilmente com a participação das crianças pequenas.
Algumas escolas investem em espaços com animais e plantas, o que facilita o convívio dos pequenos com suas relações. A confecção e observação de terrários pode fazer com que a criança perceba a articulação entre cuidados e a ciência, através do cultivo de seres vivos importantes para manter a vida das plantas.
As brincadeiras que envolvem a expressão corporal favorecem o conhecimento do próprio corpo e como ele cresce e se desenvolve, ampliando o a noção de seus potenciais físicos, motores e perceptivos. Contudo, a criança percebe gradativamente a relação entre o seu próprio corpo e o meio quando descobre que suas ações correspondem ao seu cotidiano.
Nesta perspectiva, o RCNEI aponta os objetivos para as crianças da pré-escola voltados à criticidade. O primeiro objetivo é “interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções para compreendê-lo, manifestando opiniões próprias sobre os acontecimentos, buscando informações e confrontando idéias” (Brasil, 1998b, p. 175).
A prática pedagógica do professor, neste sentido, pode envolver projetos pedagógicos que estimulem a pesquisa de alimentação, vestimentas, jogos e brincadeiras, canções, relações de trabalho e lazer que favoreçam a criança a perceber as diferenças culturais, históricas e geográficas entre as pessoas de seu convívio e de outros grupos sociais.
Outro objetivo para esta faixa etária proposto é “estabelecer algumas relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e de outros grupos” (Brasil, 1998b, p. 175). O estímulo percepção sobre as diferenças existentes entre os hábitos de pessoas de um mesmo país, porém de regiões diversas pode estar focado nas discussões sobre modos de vida, hábitos e costumes. A reflexão sobre a diversidade cultural faz com que as crianças se identifiquem no contexto social em que vivem, desenvolvendo noções de respeito, solidariedade e cooperação que deve existir com os colegas, familiares, vizinhos etc. 

O que você acha de trabalhar, com os pequenos, a paisagem urbana?

A professora irá solicitar às crianças que tentem resgatar fotos antigas e recentes do bairro em que moram. Com estas fotos, irá montar com os alunos um mural refletido, que será o resultado de uma observação feita sobre as principais mudanças ocorridas no espaço. Após a organização deste mural, a professora irá trazer um mapa da cidade com a localização dos bairros e irá mostrar partes de filmes e desenhos animados que mostrem como a modernização urbana criou diferentes tipos de construções e condições de moradia. É importante que as crianças possam perceber a localização de sua moradia em relação ao centro da cidade e, para que isto ocorra, a professora poderá desenhar com giz no pátio da escola um mosaico evidenciando o bairro da escola, bairros vizinhos e o centro da cidade. Alguns pontos conhecidos como igrejas, a escola, praças poderão ser marcados para ajudar as crianças a localizar e identificar as regiões que a cercam.
Após traçar caminhos que liguem os bairros, convidar todos para brincar de um jogo chamado Cada macaco no seu bairro. A professora irá dizer para as crianças ficarem todas na escola ou no centro da cidade ou em seu bairro e irá explicar que quando disser “cada macaco no (definir um ponto de referência) do seu bairro”, todas deverão se dirigir para o local determinado. Por exemplo: “Cada macaco na igreja do seu bairro” ou “cada macaco na escola no nosso bairro”. As crianças irão andar, pular ou correr para o local chamado e a professora poderá usar termos que definam localizações, como em frente, perto, longe, ao lado, atrás etc...
Para finalizar o trabalho, a professora poderá organizar uma visita a algum ponto de referência do bairro da escola ou do bairro onde a maioria das crianças reside, apontando também questões sociais como lideranças de movimentos, localização em relação à escola e ao centro da cidade, condições materiais e serviços disponíveis nesses locais.

4.12.1 E a ciência, como estudar a natureza?

A necessidade atual de formar cidadãos conscientes da sua ação sobre a natureza deve estimular as práticas que envolvam o contato com plantas e animais e o conhecimento sobre os cuidados no seu cultivo e criação atendem ao objetivo de “estabelecer algumas relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem, valorizando sua importância para a preservação das espécies e para a qualidade da vida humana” (Brasil, 1998b, p. 175).
O século XXI necessita de sujeitos críticos que reelaborem o seu relacionamento com o meio ambiente e nesta perspectiva, estude as conseqüências de suas ações na natureza. A própria globalização, que enquanto aproxima os povos também provoca conflitos entre as fronteiras políticas requer novas maneiras de ensino da ciência e da geografia, do estudo da terra e do tempo. Assim, desde a infância se faz necessário formar cidadãos que compreendam as relações existentes entre a natureza e a sociedade.
Se a escola tiver um laboratório ou uma sala de informática, a aula poderá utilizar o computador como um recurso das novas tecnologias, possibilitando assim a realização de experimentos que por motivo de segurança não poderiam ser feitos no ambiente escolar da educação infantil. Simuladores online possibilitam aos alunos a observação sobre a emissão de dióxido de carbono que os transportes como carros, ônibus urbanos emitem nas cidades todos os dias. Talvez você pense que este possa ser um recurso de difícil acesso ou até entendimento por parte das crianças em tão pequena idade, porém, se for feito um planejamento prévio, com objetivos e uso da linguagem clara, valerá a pena investir em um recurso que possibilita diferentes aprendizagens.
A partir das informações que forem relevantes como conteúdos e dos aspectos observados pelas crianças, poderá ser desenvolvida uma dramatização sobre o tema. Assim, com o teatro, questões ecológicas como o cuidado com a natureza, a preservação e plantio de novas árvores no bairro em que moram podem explicar a necessidade de compensar a emissão de dióxido de carbono pelos automóveis e a importância social e econômica dos transportes coletivos.
Porém, refletir sobre a preservação também exige dos professores estudo sobre diferentes culturas, como a das diferentes etnias, muitas das quais fazem parte da cultura de nosso país e também dos indígenas que representam um momento histórico triste na existência humana pela maneira como foram e são tratados pela sociedade.

Vamos brincar de índio? Muito mais que isso, estudar a cultura indígena é descobrir como a sua cultura aborda os costumes, modos de vida e a sua organização social.
Índio não é brincadeira, não!

A professora poderá pesquisar e mostrar textos e fotos dos indígenas e seus tipos de alimentos, como são produzidos, em que região. Sua maneira de expressar a arte pelo artesanato, danças, jogos e brincadeiras. Também quais são as características de suas moradias e como vivem atualmente. Elucidar e mostrar a realidade desse povo, interpretando os vestígios da presença indígena na mata, sua sobrevivência e preparo físico. Como é a sua organização social atualmente e que contribuições trouxeram para o mundo das artes, da literatura, quais escritores e músicos expressam suas origens.

Assim, as atividades podem ser feitas utilizando a releitura de imagens, exploração de instrumentos sonoros, vivência de suas brincadeiras e jogos, as quais são mais significativas do que o reducionismo da confecção de adornos e pinturas na pele proporciona aos pequenos.

A seguir serão apresentados os seminários das turmas da manhã e da noite. Entenderam bem o tema e não desperdiçaram cultura.

Fonte: RAU, M.C.T.D. Educação Infantil: metodologias e procedimentos.