A criança e a matemática
A matemática também é considerada
uma linguagem e tem como objetivo trabalhar com as relações de quantidade,
espaço, tamanho, entre outras. A criança, desde muito pequena, brinca com
formas, quebra-cabeças, jogos de encaixe e, assim, começa a ter noções dos
conceitos de tamanho, número e forma. Neste sentido, as atividades que envolvem
o conhecimento lógico-matemático estimulam o processo de desenvolvimento e
aprendizagem da criança, seja pela coordenação das relações que estabeleceu
entre os objetos e brinquedos ou para que se amplie o conhecimento físico, como
a identificação das cores, pesos etc.
A matemática
faz parte do universo de conhecimentos a que as crianças têm acesso. Os
números, as relações entre quantidades e noções sobre espaço fazem parte de
diferentes situações do cotidiano infantil.
Ao encontro
dessa idéia, Bassedas, Huguet e Solé (1999) destacam que o trabalho com a matemática
na educação infantil tem por objetivos desenvolver a capacidade de utilizar as
linguagens mais formais, abstraindo a realidade, a capacidade de perceber as
propriedades dos objetos ou de acontecimentos, envolvendo a formação de
conceitos sobre formas e tamanhos e a capacidade de resolução de problemas
através da elaboração de estratégias.
Desde muito cedo a matemática
pertence à vida da criança, que mesmo antes de entrar na creche já terá
vivenciado situações que envolvem seus conceitos. Para as mesmas autoras, “o
trabalho no âmbito da matemática, nesta idade, ajuda a criança a compreender, a
ordenar a realidade (as características e as propriedades dos objetos) e também
a compreender as relações que se estabelecem entre os objetos (semelhança,
diferença, correspondência, inclusão, etc)” (p. 81).
As
situações-problema são resolvidas pela criança à sua maneira, e neste sentido o
RCNEI aponta que: “utilizando recursos próprios e pouco convencionais, elas
recorrem a contagem e operações para resolver problemas cotidianos, como
conferir figurinhas, marcar e controlar os
pontos de um jogo, repartir as balas entre os amigos, mostrar
com os dedos a idade, manipular o dinheiro e operar com ele, etc.” (Brasil,
1998b, p. 207).
Assim, estas práticas
envolvem suas primeiras relações com os números e são fundamentais na
construção dos conhecimentos matemáticos. O professor deve considerar este
aspecto na relação ensino e aprendizagem da criança. Porém, nem sempre o
conhecimento da matemática ou de qualquer outra disciplina foi considerado um
processo em construção e nesta perspectiva o próprio RCNEI aponta algumas
reflexões. A abordagem da matemática foi por muito tempo desenvolvida
destacando a aprendizagem dos conteúdos por repetição, memorização e
associação. Neste sentido, a aprendizagem se dava numa sequência de conteúdos
que requeriam requisitos anteriores e precisavam ser trabalhados do simples
para o complexo, do fácil para o difícil.
Outra concepção em relação à
aprendizagem da matemática é que a ação pedagógica precisa acontecer a partir
do objeto concreto para que a criança faça as abstrações. O referido documento
aborda que a fragmentação entre concreto e abstrato, entre objeto e conceitos,
faz com que os recursos utilizados para explorar o conhecimento prévio que o
aluno possa ter sejam considerados autoinstrutores. “Na realidade, toda ação
física supõe ação intelectual” (Brasil, 1998b, p. 209), assim, o objeto evoca
sempre experiências que a criança teve em relação ao conteúdo a ser
desenvolvido. Assim observa-se nas falas da criança ao ser questionada quantos
anos tem – sua resposta se relaciona ao número; o mesmo pode acontecer quando
ela sobe na balança para ver seu peso ou usa moedas para pagar balas. “Como
aprender é construir significados e atribuir sentidos, as ações representam
momentos importantes da aprendizagem na medida em que a criança realiza uma
intenção” (Brasil, 1998b, p. 210).
Uma maneira significativa de
iniciar o trabalho pedagógico com os números na Educação Infantil pode envolver
a prática de coleções. Estimular as crianças a colecionar pode ser uma forma
lúdica de relacionar suas experiências aos números, grandezas e quantidades.
Juntar objetos é um recurso que o professor pode utilizar para apresentar os
conteúdos da matemática para as crianças, por fazer parte de hábitos que
perpetuam diferentes culturas e momentos históricos. Assim, o conhecimento
sobre as operações de adição e subtração, produção e interpretação de registros
numéricos, comparação e ordenação de quantidades e produção de sequências em
ordem crescente e decrescente pode ser construído levando a criança a diversas
formas de raciocínio. O professor pode utilizar, inicialmente, jogos e
brincadeiras que explorem o que as crianças sabem sobre número, numeral,
contagem e registro e, durante a prática, fazer anotações sobre a maneira como
participam das atividades, o interesse e como resolvem os problemas propostos.
Vale a pena lembrar que o
jogo utilizado como recurso pedagógico precisa que o professor planeje e
oriente as situações com a criança e que possua objetivos claros em relação à
aprendizagem. O jogo e as atividades coletivas como parte do planejamento sobre
a Matemática se justificam por apresentar os conteúdos de forma lúdica e contextualizada
na Educação Infantil.
Nesta perspectiva é que as
coleções podem contribuir no desenvolvimento de noções de quantidade. As
crianças podem ser estimuladas a trazer para a escola chaveiros, bonecos de
borracha pequenos, etc. e, para organizar a coleção, a professora pode fazer um
mural com os números de 1 a
10 escritos em cima de ganchos para pendurar, junto com os pequenos, um a um,
até que se forme a quantidade referida. Todo o dia pode ser feita a contagem
com as crianças. Os cartões telefônicos, que trazem figuras de animais ou
diferentes regiões do país, por exemplo, podem auxiliar na aprendizagem da
escrita de uma sequência numérica. Os cartões podem ser colados em uma
sequência numérica escrita no quadro embaixo de cada número.
Folhas e flores são colhidas
pelas crianças diariamente por serem interessantes e propiciar momentos de
afeto entre elas e a mãe ou a professora. Convidar as crianças a passear no
jardim e colher folhas pode ser uma atividade rica e facilitar a contagem e o
registro até 20 ou 30. A
atividade pode consistir em organizar as folhas considerando o tamanho e a
forma, contar e registrar até o número a ser definido pelo professor. Durante a
contagem também surgirão as operações de soma e de subtração e, ao final da
atividade, todos podem confeccionar quadros, livros e desenhos com as folhas
selecionadas.
A resolução de problemas é
parte do contexto da aprendizagem da matemática. Conforme o RCNEI, “Na
aprendizagem da matemática o problema adquire um sentido muito preciso. Não se
trata de situações que permitam aplicar o que
já se sabe, mas sim daquelas que possibilitam produzir novos conhecimentos a
partir dos conhecimentos que já se tem em
interação com novos desafios” (Brasil, 1998b, p. 211).
A turma da pré-escola também
pode ser estimulada a ler, interpretar e produzir escritas numéricas de dois e
três algarismos, pois já operam com quantidades maiores e resolvem pequenos
problemas matemáticos. Assim, uma coleção de figurinhas pode ser um recurso
viável para apresentar os números até 100. As crianças trazem as figurinhas,
que vão sendo contadas diariamente. O professor deve considerar que o aumento
da quantidade exigirá novas atitudes referentes à aprendizagem dos números,
pois será diferente contar 8 mais 6 e 12 mais 17, por exemplo. As crianças
apresentarão diferentes formas de contar, utilizando os dedos, riscos no
quadro, entre outros. É importante que elas elaborem todas as formas possíveis,
pois através da análise e da discussão dos procedimentos utilizados é que chegarão
ao modo mais próximo à forma de seu raciocínio.
O professor poderá utilizar
alguns elementos que sirvam de referências, como a fita métrica. O registro e a
contagem das figurinhas proporcionarão novas relações, organização de
pensamento e elaboração de argumentos sobre as diversas maneiras de
organização, o que proporcionará ao professor reflexão sobre a metodologia.
Neste sentido, o Referencial aborda que “reconhecer a potencialidade e a
adequação de uma dada situação para a aprendizagem, tecer comentários, formular
perguntas, suscitar desafios, incentivar a verbalização pela criança, etc. são
atitudes indispensáveis do adulto” (Brasil, 1998b, p. 213).
Além das coleções,
atividades como histórias, contos, músicas, jogos e brincadeiras favorecem a
construção dos conhecimentos matemáticos na infância, pois envolvem, além da
sequência numérica, comparações entre quantidades e notações numéricas e a
localização espacial.
Fonte: RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM. Curitiba: IBPEX, 2011.
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