A criança, a natureza e a sociedade
As crianças
da creche representam o mundo a partir das relações que estabelecem com os
objetos concretos da realidade sentida e vivenciada. Essas relações são
significadas e mediadas por representações construídas culturalmente,
favorecendo a mudanças no modo de compreensão do mundo. A criança é curiosa,
gosta de explorar objetos e estar em constante movimento. Nesse processo,
confronta hipóteses e explicações que lhes são fornecidas nas interações com o
meio. Assim, a elaboração de conceitos pelas crianças ocorre não apenas a
partir do concreto, mas de forma contextualizada, acerca dos fenômenos, seres e
objetos e, conforme vão se desenvolvendo e aprendendo, dirige-se a
particularização.
Segundo o
RCNEI, o conhecimento a ser construído nessa área acontece gradativamente nas
atitudes infantis de “curiosidade, de crítica, de refutação e de reformulação
de explicações para a pluralidade e divesidade de fenômenos e acontecimentos do
mundo social e natural” (p. 173). Assim, nesta perspectiva, o professor pode
organizar o trabalho de maneira a sistematizar conteúdos que sejam mais significativos
para a criança e sua realidade. O trabalho pode consistir em estimular as
crianças a obsevar fenômenos, descrever acontecimentos, elaborar hipóteses e,
principalmente, conhecer a historicidade existente nas relações sociais
utilizando recursos como televisão, rádio, fotografias, jornais, filmes e
livros.
A prática
pedagógica com crianças de creche tem por objetivo “explorar o ambiente, para
que possa se relacionar com pessoas, estabelecer o contato com pequenos
animais, com plantas e com objetos diversos, manifestando curiosidade e interesse”
(Brasil, 1998b, p. 166). As atividades podem envolver histórias, jogos e
brincadeiras e músicas que abordem a cultura a que a criança é envolvida em seu
contexto social, experiências que identifiquem explorações de objetos, suas
propriedades e relações simples de causa e efeito. Assim, fazer gelatina é um
exemplo simples de como ocorre o processo de transformação e pode ser feito
facilmente com a participação das crianças pequenas.
Algumas
escolas investem em espaços com animais e plantas, o que facilita o convívio
dos pequenos com suas relações. A confecção e observação de terrários pode
fazer com que a criança perceba a articulação entre cuidados e a ciência,
através do cultivo de seres vivos importantes para manter a vida das plantas.
As
brincadeiras que envolvem a expressão corporal favorecem o conhecimento do
próprio corpo e como ele cresce e se desenvolve, ampliando o a noção de seus
potenciais físicos, motores e perceptivos. Contudo, a criança percebe gradativamente
a relação entre o seu próprio corpo e o meio quando descobre que suas ações
correspondem ao seu cotidiano.
Nesta
perspectiva, o RCNEI aponta os objetivos para as crianças da pré-escola
voltados à criticidade. O primeiro objetivo é “interessar-se e
demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas,
imaginando soluções para compreendê-lo, manifestando opiniões próprias sobre os
acontecimentos, buscando informações e confrontando idéias” (Brasil, 1998b, p. 175).
A prática pedagógica
do professor, neste sentido, pode envolver projetos pedagógicos que estimulem a
pesquisa de alimentação, vestimentas, jogos e brincadeiras, canções, relações
de trabalho e lazer que favoreçam a criança a perceber as diferenças culturais,
históricas e geográficas entre as pessoas de seu convívio e de outros grupos
sociais.
Outro objetivo para
esta faixa etária proposto é “estabelecer algumas relações entre o modo de vida
característico de seu grupo social e de outros grupos” (Brasil, 1998b, p. 175). O estímulo percepção sobre as
diferenças existentes entre os hábitos de pessoas de um mesmo país, porém de
regiões diversas pode estar focado nas discussões sobre modos de vida, hábitos
e costumes. A reflexão sobre a diversidade cultural faz com que as crianças se
identifiquem no contexto social em que vivem, desenvolvendo noções de respeito,
solidariedade e cooperação que deve existir com os colegas, familiares,
vizinhos etc.
O que você acha de trabalhar, com
os pequenos, a paisagem urbana?
A professora irá
solicitar às crianças que tentem resgatar fotos antigas e recentes do bairro em
que moram. Com estas fotos, irá montar com os alunos um mural refletido, que será o resultado de uma observação feita sobre
as principais mudanças ocorridas no espaço. Após a organização deste mural, a
professora irá trazer um mapa da cidade com a localização dos bairros e irá
mostrar partes de filmes e desenhos animados que mostrem como a modernização
urbana criou diferentes tipos de construções e condições de moradia. É
importante que as crianças possam perceber a localização de sua moradia em
relação ao centro da cidade e, para que isto ocorra, a professora poderá
desenhar com giz no pátio da escola um mosaico evidenciando o bairro da escola,
bairros vizinhos e o centro da cidade. Alguns pontos conhecidos como igrejas, a
escola, praças poderão ser marcados para ajudar as crianças a localizar e
identificar as regiões que a cercam.
Após traçar caminhos
que liguem os bairros, convidar todos para brincar de um jogo chamado Cada macaco no seu bairro. A professora
irá dizer para as crianças ficarem todas na escola ou no centro da cidade ou em
seu bairro e irá explicar que quando disser “cada macaco no (definir um ponto
de referência) do seu bairro”, todas deverão se dirigir para o local
determinado. Por exemplo: “Cada macaco na igreja do seu bairro” ou “cada macaco
na escola no nosso bairro”. As crianças irão andar, pular ou correr para o
local chamado e a professora poderá usar termos que definam localizações, como em frente, perto, longe, ao lado, atrás etc...
Para finalizar o
trabalho, a professora poderá organizar uma visita a algum ponto de referência
do bairro da escola ou do bairro onde a maioria das crianças reside, apontando
também questões sociais como lideranças de movimentos, localização em relação à
escola e ao centro da cidade, condições materiais e serviços disponíveis nesses
locais.
4.12.1
E a ciência, como estudar a natureza?
A necessidade atual de
formar cidadãos conscientes da sua ação sobre a natureza deve estimular as
práticas que envolvam o contato com plantas e animais e o conhecimento sobre os
cuidados no seu cultivo e criação atendem ao objetivo de “estabelecer
algumas relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se
estabelecem, valorizando sua importância para a preservação das espécies e para
a qualidade da vida humana” (Brasil, 1998b, p. 175).
O século XXI necessita
de sujeitos críticos que reelaborem o seu relacionamento com o meio ambiente e
nesta perspectiva, estude as conseqüências de suas ações na natureza. A própria
globalização, que enquanto aproxima os povos também provoca conflitos entre as
fronteiras políticas requer novas maneiras de ensino da ciência e da geografia,
do estudo da terra e do tempo. Assim, desde a infância se faz necessário formar
cidadãos que compreendam as relações existentes entre a natureza e a sociedade.
Se a escola tiver um
laboratório ou uma sala de informática, a aula poderá utilizar o computador
como um recurso das novas tecnologias, possibilitando assim a realização de
experimentos que por motivo de segurança não poderiam ser feitos no ambiente
escolar da educação infantil. Simuladores online possibilitam aos alunos a
observação sobre a emissão de dióxido de carbono que os transportes como
carros, ônibus urbanos emitem nas cidades todos os dias. Talvez você pense que
este possa ser um recurso de difícil acesso ou até entendimento por parte das
crianças em tão pequena idade, porém, se for feito um planejamento prévio, com
objetivos e uso da linguagem clara, valerá a pena investir em um recurso que
possibilita diferentes aprendizagens.
A partir das
informações que forem relevantes como conteúdos e dos aspectos observados pelas
crianças, poderá ser desenvolvida uma dramatização sobre o tema. Assim, com o
teatro, questões ecológicas como o cuidado com a natureza, a preservação e
plantio de novas árvores no bairro em que moram podem explicar a necessidade de
compensar a emissão de dióxido de carbono pelos automóveis e a importância
social e econômica dos transportes coletivos.
Porém, refletir sobre
a preservação também exige dos professores estudo sobre diferentes culturas,
como a das diferentes etnias, muitas das quais fazem parte da cultura de nosso
país e também dos indígenas que representam um momento histórico triste na
existência humana pela maneira como foram e são tratados pela sociedade.
Vamos brincar
de índio? Muito mais que isso, estudar a
cultura indígena é descobrir como a sua cultura aborda os costumes, modos de
vida e a sua organização social.
Índio não é brincadeira, não!
A professora
poderá pesquisar e mostrar textos e fotos dos indígenas e seus tipos de
alimentos, como são produzidos, em que região. Sua maneira de expressar a arte
pelo artesanato, danças, jogos e brincadeiras. Também quais são as
características de suas moradias e como vivem atualmente. Elucidar e mostrar a
realidade desse povo, interpretando os vestígios da presença indígena na mata,
sua sobrevivência e preparo físico. Como é a sua organização social atualmente
e que contribuições trouxeram para o mundo das artes, da literatura, quais
escritores e músicos expressam suas origens.
Assim, as
atividades podem ser feitas utilizando a releitura de imagens, exploração de
instrumentos sonoros, vivência de suas brincadeiras e jogos, as quais são mais
significativas do que o reducionismo da confecção de adornos e pinturas na pele
proporciona aos pequenos.
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